Neilson Régis. Tecnologia do Blogger.

"O vazio absoluto existe em alguma parte no espaço universal?
Não, nada é vazio. O que imaginais como vazio é ocupado por uma matéria que escapa aos vossos sentidos e aos vossos instrumentos."

(Questão 36 do Livro dos Espíritos)

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segunda-feira, 26 de abril de 2010

MOMENTOS HISTÓRICOS DA PESQUISA CIENTÍFICA ANTE A PERSPECTIVA ESPÍRITA


Por: Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

A tecnologia está tão presente na vida cotidiana que não imaginamos o mundo sem a sua contribuição. Seja na informática (computadores), na telecomunicação (aparelhos celulares), na genética (pesquisas com células tronco), na biotecnologia (transgênicos), nas conquistas espaciais. A Ciência, propriamente dita, é uma conquista recente; não ultrapassa a três séculos, embora seus primeiros ensaios tenham começado na Grécia dos áureos séculos VI, V, IV a.C. Temo-la representada por Arquimedes, em cujas pesquisas deram base para a mecânica, por Pitágoras de Samos, por Tales de Mileto, por Euclides de Alexandria, no desenvolvimento da matemática e da estruturação numérica.

Encontramos na Escola Jônica pesquisadores como Leucipo, Demócrito e Empédocles que explicaram os fenômenos naturais calcados na redução da matéria aos elementos físico-atômicos, expressando o mais avançado materialismo(1). Destacamos o filósofo Sócrates que superou em inteligência o seu professor Anaxágora , legando para a humanidade discípulos da envergadura intelectual de Antístenes, Xenofonte e Platão. No contexto, Aristóteles forçou explicar os fenômenos astronômicos sob o viés do geocentrismo cosmológico de Eudoxo (ex-aluno de Platão), em contraponto a Aristarco que caminhou pela instigante tese do heliocentrismo.

Um milênio após essas apoteóticas realizações gregas, ocorreu, na Europa, a desagregação do Império romano, no século V, e a liderança cristã surgiu como elo de agregação dos “bárbaros invasores” e se transformou em Igreja soberana absoluta dos destinos “espirituais” no Ocidente. Nas suas hostes se destacaram pensadores quais Clemente, Orígenes, Tertuliano, Agostinho, ambos retomaram a filosofia platônica e contribuíram para a sustentação de uma ética rígida sob os auspícios da mística transcendente.

No século IX, o imperador Carlos Magno incrementou as bases culturais fundando escolas e templos, e, a partir do século XI, são disseminadas, na Europa, universidades que se tornaram núcleos de reflexões filosóficas. No século XIII, Tomás de Aquino se destacou, propondo a síntese do cristianismo vigente com a visão aristotélica do mundo. Em suas duas Summae(2), sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de então. No século XIV, a Igreja romana, sob os guantes tomasistas, entronizou uma teologia (fundada na revelação) e uma filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundiram numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo ao Criador. A tese de Aquino afirmava que não podia haver contradição entre fé e razão e estabeleceu o pensamento filosófico-teológico manifesto na truculenta filosofia do “Roma locuta causa finita”.
Durante os séculos XV e XVI, intensificou-se, na Europa, a produção artística e científica. Esse período ficou conhecido como Renascimento ou Renascença. Enquanto nos séculos anteriores a vida do homem devia estar centrada em Deus (teocentrismo), a partir dos séculos XV e XVI, o homem passa a ser o principal personagem (antropocentrismo). Os pensadores criticaram e questionaram a autoridade dessa autoritária Igreja romana. Nessa conjuntura a apropriação do conhecimento partia da realidade observada pela experimentação, pela constatação, e, por fim, pela teoria, decorrendo uma ligação entre ciência e técnica. No século XVII, a primeira grande teoria que se tem notícia na moderna ciência versou sobre a gravitação universal elaborada por Newton, desmembrada das leis dos movimentos planetários de Kepler e na Lei de Galileu sobre a queda dos corpos.
No século XX, Albert Einstein propôs a teoria da relatividade e outros pressupostos das teses newtonianas sobre a gravitação universal, chegando a conclusões inusitadas na abordagem sobre as realidades do micro ou do macrocosmo, sobretudo no que reporta a tempo e espaço na dimensão material. Até então, a física tradicional era considerada a chave das respostas da vida no mundo palpável, estribada no determinismo mecanicista. Todavia, na década de 1920, as pesquisas de Brooglie, Bohr, Plank, no universo da física quântica, redirecionaram o pensamento científico na formulação heisenberguiana do “princípio da indeterminação ou da incerteza” e com ele irrompeu-se um “irracionalismo” na ciência redimensionando a distância do homem das realidades naturais da vida.
O pesquisador não podia mais afirmar que nada existia na vida que a ciência não explicasse e que todas as coisas, fenômenos e ocorrências poderiam ser esclarecidos através de causas materiais. Em meio a essas trajetórias históricas, surge, no cenário terrestre, no século XIX, a personalidade luminosa de Allan Kardec, que, inspirado pelos Benfeitores do Além, sentenciou: “Fé verdadeira é a que enfrenta frente a frente a razão em qualquer época da humanidade”, esclarecendo os enigmas que desafiavam as inteligências daqueles mesmos que confiavam nos determinismos tecnicista do nec plus ultra acadêmico.
Quem somos? Por que nascemos? Donde viemos e para onde vamos após a desencarnação? Eram questões que o racionalismo acadêmico não respondia na época. O Espiritismo surgiu num momento de descobertas científicas e desequilíbrios morais, trouxe luz à própria razão que estava nublada momentaneamente pelos excessos dos seus arautos. Os primórdios da investigação científica tiveram início com a revolta contra a intolerância e o dogmatismo religioso, mas a arrogância do racionalismo fê-la camisa de força do conhecimento, arremessando-a nos mesmos descaminhos trilhados pelo agressivo e alienante dogma da Igreja.
O mestre de Lyon afirmou em outras palavras que “o Espiritismo independe de qualquer crença científica ou religiosa e não propõe fora do Espiritismo não há salvação; tanto quanto não pretende explicar toda verdade, razão pela qual não propôs - fora da verdade não há salvação”(3). Os preceitos kardecianos consubstanciam-se no manancial mais expressivo das verdades eternas. A missão da Doutrina Espírita perpassa pelo processo de reerguimento do edifício desmoronado da crença cristã.
Distante dos conflitos ideológicos, resultantes de batalhas estéreis no campo intelectual com o objetivo de endeusar o racionalismo para justificar “certezas” das chamadas ciências “exatas”, a lição espírita, como ciência da alma, representa o asilo dos aflitos que ouvem aquela misericordiosa exortação do Mestre: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”. Porém, para que sejamos consolados, urge estarmos dispostos acompanhar o Cristo tomando-Lhe a cruz e seguindo Seus passos.


Fonte:
(1) O materialismo teve seu berço na escola dos Charvacas, na Índia.
(2) São elas a Summa Theologiae e a Summa Contra Gentiles
(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, cap 15 item 9

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

TRAILER OFICIAL de " NOSSO LAR "



Em setembro será lançado o filme "Nosso lar", adaptação do livro de mesmo nome psicografado por Chicio Xavier em 1944. Maior clássico da literatura espírita nacional, o romance - que acabou virando série - é contado sob o ponto de vista do espírito André Luiz, que, como um repórter, transmite suas impressões sobre o mundo espiritual pós-vida para Xavier
Dirigido por Wagner de Assis , "Nosso lar" é rico em efeitos especiais. "O filme todo se passa em uma cidade espiritual chamada Nosso Lar, e o maior desafio foi a construção dessa cidade", explica a produtora do filme Iafa Britz. "Durante meses, nossa diretora de arte e um grupo de arquitetos se debruçaram sobre esse projeto, que é verdadeiramente arquitetônico. Depois, tudo foi recriado pelo pessoal dos efeitos especiais."
Para a fotografia e os efeitos especiais foram convocados profissionais internacionais, incluindo o diretor de fotografia Ueli Steiger (de "10.000 A.C", e "O dia depois de amanhã") e o supervisor de efeitos especiais Lev Kolobov, da empresa canadense Intelligent Creatures ("A caçada", "Babel" e "Watchmen"). No elenco, "Nosso lar" tem Renato Prieto, Othon Bastos, Ana Rosa, Werner Schunemann, Lu Grimaldi, Nicola Siri e Chica Xavier e Paulo Goulart - que também participa do longa de Daniel Filho.

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terça-feira, 6 de abril de 2010

Entrevista de Juvenise a Gazeta do Oeste.

Segue na integra a entrevista de Juvenise Tavares concedida aos jornalistas Gilberto de Sousa e Luis Juetê.

GAZETA DO OESTE - Professora, o espiritismo conta com o ícone Chico Xavier, que agora estaria comemorando 100 anos de existência, se ele fosse vivo. O que representa ou representou, para o espiritismo, o médium Chico Xavier?

JUVENISE TAVARES - Francisco Cândido Xavier, para nós mais conhecido como Chico Xavier, podemos dizer que teve uma grande significação no espiritismo no Brasil. Porque a obra de Chico, marcada pela sua psicografia, hoje fica em algo em torno de 420 livros, todos psicografados. Para que o nosso leitor possa entender, a psicografia é um fenômeno mediúnico que permite que o espírito desencarnado se utilize do corpo físico do médium, mais precisamente da mão do médium, e possa trazer sua mensagem escrita. Esse processo se chama psicografia. Então, é a mediunidade, que se chama psicografia, e que Chico, desde os seus cinco anos de idade, quando havia perdido sua mãe e vivia na companhia da sua madrinha, que não tinha muita afinidade com Chico, e ele sofreu nas mãos dessa madrinha, e a sua mãe começou a lhe aparecer. E, ainda criança, via e se comunicava com sua mãe, que lhe transferia sua mensagem de consolo, que ele suportasse aquelas dificuldades, e que ele teria ainda muitas outras coisas para enfrentar. Aos 17 anos de idade, não que durante os 5 aos 17 não tenha acontecido outros fenômenos, mas precisamente com essa idade é que Chico começa, vamos dizer assim, sua atividade mediúnica no Centro Espírita Luiz Gonzaga, na cidade de Pedro Leopoldo, local do seu nascimento, e encontra ali, na década de 1920, o marco da obra de psicografia de Chico Xavier, com a publicação do livro "Parnaso de Além-túmulo", onde autores brasileiros e portugueses trazem uma coleção de obras literárias, de poemas, de poesias, coisas assim maravilhosas, autores como Castro Alves, Auta de Souza, Casimiro Cunha, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos, Antero de Quental.

GO - Auta de Souza, inclusive, potiguar, não é?

JT - Poetisa potiguar, com sua obra também reconhecida pela literatura brasileira, e o livro vem talvez para inaugurar, abrir as portas do além, usando uma linguagem mais simples, pela mão de Chico Xavier, através da psicografia, um fenômeno maravilhoso que permite que o espírito transcreva a sua mensagem, traga a sua informação, valendo-se da psicografia de Chico para trazerem a sua visão do além. Imagine um escritor como Augusto dos Anjos, quem conhece a sua obra sabe o quanto ele tinha um marco, na sua obra literária, do pessimismo, aquela coisa da morte, do nada. Sua obra era marcada por esse traço característico. Na obra, ele vem falando de uma vida de esplendor, da realidade absolutamente contrária que ele encontra após a morte. Então, é de uma contribuição imensurável. A partir daí, foi uma sequência de obras, e aí nós vamos ter o marco do livro Nosso Lar, e esse livro é um outro marco na trajetória da obra psicográfica de Chico, porque, escrito pelo espírita André Luiz, que é o pseudônimo que o espírito dá quando aparece a Chico, e diz: "Eu fui médico, quando vivia aqui na terra, e tenho que lhe trazer algumas obras, que vamos escrever através da sua psicografia". E Chico pergunta: "Mas quem é você? Qual o seu nome?" E ele responde, perguntando: "Qual é o nome desse garotinho que dorme no quarto ao lado?" Chico diz: "É o meu sobrinho, André Luiz". É quando ele diz: "De agora em diante vai me chamar de André Luiz". Para ver que o espírito não tinha nenhum interesse de ser identificado, que se pudesse fazer referência à pessoa que ele foi, quando esteve aqui na terra, e adota esse nome.

GO - Só um detalhe: depois, houve um estudo para descobrir quem era.

JT - Exato. Aí, hoje, ele diz, na obra, que morou na cidade do Rio de Janeiro, foi médico. Ele faz questão de não se identificar, mas descortina uma série de informações sobre o mundo espiritual. E é muito interessante a obra Nosso Lar, porque o espírito, na sua descrição, nós, enquanto espíritos encarnados, vemo-nos muito na pessoa de André Luiz. Foi um homem que viveu em nosso meio, um profissional médico, com suas paixões, pois vindo de uma família abastada, permitia-lhe que ele tivesse acesso aos prazeres, uma vida farta, o que se pode dizer hoje, estável financeiramente, que sempre buscou a estabilidade dos seus. Mas ele também reconhece que foi um homem com defeitos, que deram ênfase às suas vaidades, ele é muito claro. Inclusive, por causa disso, ele danifica o seu organismo físico, e chega no plano espiritual na condição de suicida. Quando ele começa a obra não se diz espírito, nem materialista, nem ateu, mas também não religioso. Mas quando adentra as portas da morte, percebe que lutou muito contra ela, no seu leito, dá-se a entender que ele morreu em virtude de uma úlcera no estômago, que se aprofundou a ponto de se tornar uma doença incurável. Ele lutou muito contra a morte, durante muito tempo no hospital, apesar de ser médico. Mas quando passa pelas portas da morte, vê outra realidade, um ambiente de sombras, de perturbações e, o que é pior, sendo chamado de suicida. Ele protesta: "Tudo, menos suicida, pois lutei contra a morte. Tudo que eu queria era viver". Mas o que a gente vai entender, ao longo da obra, e isso ele faz questão de descrever que ele havia chegado ao plano espiritual na condição de suicida indireto, porque, devido às suas imprudências para com o seu organismo, ele danificou a sua estrutura física e chegou à morte antes da época que estava prevista. É como se imaginasse você ter um tanto de fluido vital para desenvolver determinado período na sua vida, mas usou em excesso. Ou um filho que vai para uma viagem, e o pai dá sua mesada para um determinado período. Mas ele consome em demasia e logo fica sem dinheiro. Ou fica com o problema ou tem que pedir mais dinheiro ao pai. André Luiz, na obra, faz questão de mostrar o plano espiritual, mas dentro de uma visão científica. Devido ele ter sido médico, todos os casos que ele narra faz questão de lançar um olhar de pesquisa, de ciência, em cima daquilo ali. Quando ele encontra um espírito que estava por demais perturbado, ele procura saber por que, pergunta, pede para averiguar melhor porque aquele espírito se apresentava com essa ou aquela característica, sempre observando a intenção do espírito de lançar um olhar de investigação. O mercado reconhece que não só os espíritas adquirem Nosso Lar. Outros o leem e se encantam, acham que o livro traz muita informação, fala do plano espiritual de uma cidade que existe tudo, uma estrutura de organização, 16 ministérios com suas coordenações, pessoas responsáveis, até os ambientes que recolhem os espíritos recém-desencarnados. E é nesse momento que a gente se identifica muito com a descrição do espírito, porque a gente acha que está fazendo tudo certinho, programado, mas, quando passar pela porta da morte é que a gente vai saber se nós cumprimos o que havíamos planejado, se nos distanciamos muito da nossa meta, ou pode ser que tenhamos excedido aquele que era o nosso compromisso. As informações que André Luiz nos traz não são só de sofrimento, de perturbação que ele encontrou, mas vai falar de casos de espíritas que, devido à sua capacidade de amor, ao seu trabalho extensivo, pessoas que estavam próximas à morte, mas que receberam uma moratória, é esse o termo que eles chamam, de que a espiritualidade permitiu que essa pessoa viva aqui mais um período, para que ela possa cumprir a sua missão, chegar à determinada tarefa. Então, a descrição que André Luiz traz na sua obra, nos outros 15 livros da série, pois só dele foram 16 livros trazidos pela psicografia de Chico, a gente pode ver quanto de informação esse espírito nos trouxe. Então, ele vai falar dos processos de desencarnação, de reencarnação, e tudo isso nos traz uma releitura do nosso comportamento e postura moral. Da nossa relação com o próximo, com o meio ambiente. Quando você pergunta sobre a contribuição de Chico, eu diria que é inestimável, é incalculável a contribuição desse médium ao espiritismo no Brasil, porque o conhecimento espírita nos chega através dos espíritos. Mas para isso é preciso que os espíritos tenham um canal de comunicação.

GO - Pode-se dizer que o espiritismo no Brasil se divide entre antes e depois de Chico Xavier?

JT - Em termos de popularização, não seria errado dizer isso, porque nós vamos encontrar no início da doutrina espírita no Brasil, aí nós vamos ter como um marco assim oficial a criação do primeiro grupo espírita no Estado da Bahia, em 1865, mais precisamente. Imagine que a doutrina espírita tinha oficialmente surgido através da publicação da obra O Livro dos Espíritas, em 1857. Se perguntarmos qual a data do espiritismo, a gente tem a publicação do livro citado como referência, porque é a obra que lança o espiritismo.

GO - Uma espécie de Bíblia da doutrina?

JT - Isso. Inclusive faz muitas citações da Bíblia. Uma coisa que é interessante a gente relembrar, abrindo um parêntese na sua pergunta, que a base religiosa do espiritismo é basicamente cristã. Nós vamos encontrar na obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, trazido por orientação dos espíritos superiores, naturalmente, que escreviam através de diversos médiuns, e Alan Kardec organizada aquelas mensagens e textos, e os espíritas pinçavam trechos do Evangelho O Novo Testamento e analisaram esses trechos à luz do ensinamento espírita, a reencarnação, à luz dessa visão da imortalidade, do mundo que nos envolve, dessa vida eterna que nós temos pela frente, entendendo que a nossa vida presente é apenas uma experiência em meio a milhares que ainda vamos ter e de outras tantas que já tivemos. Uma passagem bem característica do Evangelho, quando Jesus fala: "Amai aos vossos inimigos, fazei o bem a quem vos odeia e orai pelos que vos perseguem", está lá no Velho Testamento. Aí, o que a doutrina espírita acrescenta nisso aí? Porque vamos entender que essa obrigação da prática da lei do amor, além dela ser uma exigência para que o espírito possa se depurar, para que a gente possa sair daquele estágio de inferioridade, de ódio e de vingança, só alcançaremos isso quando conseguirmos aplicar a lei de amor nos nossos pensamentos, nas nossas ações.

GO - Em nível de Brasil, Chico Xavier é a referência. Mas e a cotação dele internacionalmente, porque hoje a referência maior continua sendo Alan Kardec? Mas acredito que Chico Xavier esteja bem próximo.

JT - A gente pode fazer a seguinte diferencia, porque Alan Kardec, como eu falava da obra O Livro dos Espíritas, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e a Gênesi são as cinco obras que caracterizam o que a gente chama de pentatêutico kardequiano, ou seja, as obras básicas do espiritismo. Kardec não escreveu essas obras, ele apenas se debruçou sobre todos os apanhados, todas as mensagens que eram trazidas por médiuns, por pessoas que ele investigou. Ele aqui recebia uma mensagem, o espírito dizia isso. Consultava um outro médium e comparava as respostas, para poder perceber que espíritos diferentes falavam sobre o mesmo tema com a mesma propriedade e característica. Então, Kardec teve essa função de compilar e codificar. Por isso que a gente faz referência a Alan Kardec como a pessoa que enfrentou o mundo. Imagine que Kardec, em meados do século XIX, século marcado pelo desenvolvimento cientista, mas também pela grande extorsão das doutrinas materialistas, que é decorrente do grande avanço científico, íamos perceber o quê: "Não precisamos de religião". Frederich vai afirmar que Deus está morto. E é no meio do celeiro de tantas informações científicas, onde nós estamos descobrindo coisas maravilhosas, que são úteis até os dias de hoje, que surgem na doutrina espírita, e Kardec, também um estudioso da época, com obras reconhecidas na área da pedagogia, e ele enfrenta a sociedade europeia, publicando uma obra que falava de espíritas. Então, o marco, que também é bom lembrar que Alan Kardec era o pseudônimo dele, e não seu nome verdadeiro, exatamente para ficar claro que a obra não era de sua autoria. Vamos ter Kardec como marco inicial, e vamos ter Chico com o papel de popularizar a doutrina, através da psicografia. Porque o número de livros circulando, onde ele não falavam só de ciência, mas de romance com histórias de espíritos que chegavam no plano espiritual falando das colônias espirituais, que é o caso de André Luiz. Isso realmente ajudou a popularizar a doutrina espírita e tornar a coisa mais próxima da realidade daquilo que se lê na obra de Kardec, em Chico os espíritos fizeram como se comprovassem aquilo que Kardec falava no livro da pesquisa científica.

GO - Em relação ao Doutor Fritz, que através de um médium realiza cirurgias. Mito, charlatanismo, enfim...?

JT - Não diria que é mito nem charlatanismo. O Doutor Fritz é um médico alemão, que se identifica como o espírito de tal, que viveu na época da II Guerra Mundial, é que já teve a oportunidade de fazer cirurgias espirituais através de alguns médiuns, entre eles o famoso Arigó, acho que foi na década de 1970, temos também o médium Edson Queiroz, pernambucano, inclusive meu conterrâneo, e que eu, ainda garota, tive a oportunidade de vê-lo na Federação Espírita do Rio Grande do Norte, onde passou uns dois dias e muitas pessoas fizeram suas cirurgias, e casos de pessoas que narraram.

GO - Eficácia comprovada?

JT - Sim. Agora a história do Doutor Fritz é marcada por médiuns que morrem de maneira trágica, há toda uma crença, uma mística ou superstição em torno disso aí. Acreditamos que isso tenha alguma coisa a ver com a trajetória desses médiuns, e que em nada desmerecem o fenômeno em si, que é a possibilidade da cirurgia espiritual. Se você pergunta se para fazer a cirurgia ele teria que cortar o corpo físico, se alguém já viu, eu responderia que não necessariamente. O espiritismo nos diz é que essas cirurgias elas se dão: por que essas pessoas não precisam de anestesia? Por que não sagram? Por que depois não tem todo um procedimento pós-cirúrgico, havendo incisão, corte? Acreditamos que isso acontece para mostrar a evidência do fenômeno, que a questão espiritual está acima das vulnerabilidades da matéria. Mas se a pergunta é se essa cirurgia poderia ter sido feita sem esse ponto, em diria que sim. Porque ela é feita no organismo mero espiritual. O espírito consegue alterar aquele registro na matriz. Porque as nossas doenças físicas primeiro existem na nossa matriz. Todas as nossas doenças primeiro nos atingem espiritualmente, para depois se manifestar no nosso corpo físico. Não é por acaso que a gente encontra nas religiões do Oriente "mente sã, corpo são". Isso guarda uma relação verdadeira. Algumas de nossas doenças físicas, quando nós reencarnamos, tomamos de novo um corpo, já viemos com elas no registro espiritual. Elas podem ou não se manifestar durante a nossa vida. Vai depender da nossa trajetória.

GO - E a questão dos carmas? O espiritismo trata muito disso. Quando o espírito desencarna continua carregando esse carma ou ele se desenvolve apenas na própria vida terrena?

JT - A palavra carma é originada do induísmo. A doutrina espírita não usa muito esse termo, muito embora ele não guarde uma ideia tão destoante do que nós falaríamos, que seriam os nossos conteúdos de comprometimento com a lei divina, que geram uma carga de sofrimentos. Se você pergunta se essa pessoa só pode se libertar desse carma, desse erro que cometeu, vamos entender que carma seria o momento em que nós, ao longo das nossas sucessivas reencarnações, infringimos a lei divina, a lei de amor, machucamos, ferimos ou magoamos alguém, destruímos a confiança, traímos a lealdade. Nós nos comprometemos com a lei divina. Existem alguns crimes que estão previstos no Código Penal, e tem os que não estão, pois passam despercebidos. As nossas ações que se comprometem, que dizem respeito à falta da lei de amor, estão previstas no código penal da vida futura. Aí eu abro um parêntese para lembrar na obra O Céu e o Inferno, de Alan Kardec, nós vamos encontrar um capítulo só falando sobre o código penal da vida futura. E nós vamos encontrar de tudo, ali. Exemplo: a gente imagina que quando a gente tira a vida de alguém, aí é um crime que já está previsto até mesmo na lei humana. Mas existem alguns crimes que passam despercebidos pela lei humana.

GO - Quais, por exemplo?

JT - Vamos supor: os nossos erros, pois crime é uma palavra forte, que dizem respeito às nossas falhas morais, como a prática da impaciência, da intolerância, do preconceito. Aí você diz: "Não, gente. Sobre o preconceito, alguns já estão previstos". Mas já outros tantos que estão nas entrelinhas do nosso comportamento, vamos dizer, imbanal. Às vezes a gente está em casa, tem uma empregada, todos nós temos alguém que nos presta serviço, e costumamos tratar os nossos subalternos, as pessoas que estão sob nossa autoridade, com arrogância, com ar da superioridade que nós atribuímos sermos detentores. Como vamos encontrar na lei divina, onde todos nós somos iguais, irmãos. "Mas ali é meu empregado". É seu empregado, mas, sobretudo, é seu irmão. Você vai exercer uma autoridade que não vença os limites da humilhação, do desrespeito, do preconceito, da falta de amor. Não quer dizer que um pai não possa punir um filho, um professor não possa chamar a atenção do seu aluno. São falhas que vamos gerando ao longo da nossa existência, vamos levar esse débito para com a lei divina, que aí a gente chama de carma. São os carmas que cometemos, são os carmas que contraímos. A doutrina espírita vai nos explicar que essa vida presente já pode ser um mecanismo onde nós vimos nos libertando desses erros, ou outras vidas futuras que venhamos a ter. Seja na condição de homem, seja na de mulher, que aí já é outro tema. O que eu posso dizer aos homens é que respeitem muito as mulheres, porque nós podemos voltar.

GO - Como a gente está no clima, o que é a Páscoa, a ressurreição, para a doutrina espírita?

JT - Nós entendemos que esses festejos da Semana Santa, a doutrina espírita, como nós já falamos, é uma religião, ou uma filosofia e uma ciência de consequências religiosas. Atende o conceito de religião a partir do momento em que ela busca aproximar o homem de Deus, na perspectiva do seu redimensionamento moral, do homem reconstruir-se moralmente, ter uma outra percepção da vida de si mesmo e da sua relação com o próximo. Mas termina não tendo característica de religião, no momento em que não tem cultos, procedimentos, estrutura hierárquica sacerdotal, rituais, dogmas. O centro espírita é um ambiente extremamente simples, onde qualquer pessoa, desde que estude, tenha coerência, domínio da explicação clara e objetiva, pode fazer um comentário espírita, desde que ele seja embasado no conhecimento do assunto. Por não termos essa ritualística, característica das religiões tradicionais, milenares, como é o caso do cristianismo, como também as evangélicas e outras crenças, nós não temos nenhum ritual ou fazemos nenhuma referência à Semana Santa. Respeitamos toda a tradição da Igreja Católica.

GO - Vocês comem carne durante a Semana Santa?

JT - Olha só, a gente acaba absorvendo o costume, até porque muitos de nós tivemos origem católica. Se você perguntar se eu vou comer, respondo que não, já fiz minha reserva de peixe e de crustáceos para o fim de semana, mas por uma questão cultural. Mas se você quer saber se isso interfere no organismo espiritual, se pode comprometer espiritualmente, digo que, na base da doutrina espírita, não há nenhuma fundamental científica que nos prove que o fato de você comer carne ou peixe lhe comprometa espiritualmente. O único comprometimento espiritual nosso é quando nós ferimos a lei divina, faltamos com a lei de amor, e vencemos o limite do respeito ao nosso próximo. Não adianta você seguir todo um ritual, não comer carne, jejuar, isso e aquilo e não consegue respeitar sua mulher. Não consegue ser fiel ao seu marido. Trata os filhos com ignorância. Não sabe se dirigir a um empregado que tem em casa. Não tem sequer o cuidado de não desperdiçar a comida que sobra da sua mesa para que possa servir a alguém. São questões que estão muito intrínsecas no nosso comportamento que podem macular o espírito. Não é um procedimento exterior que pode nos fazer melhor ou pior, mas sim o esforço que fazemos para praticar a lei de amor. Esse é o grande princípio da doutrina espírita, por isso falamos tanto em caridade. Não tem como falarmos tanto em religião, vivermos dentro das igrejas ou templos, ou mesmo do centro espírita, fazer palestras, se eu não conseguir me reformar intimamente, ou se as pessoas que viverem comigo não perceberem em mim nenhum traço de que a doutrina espírita realmente está conseguindo me transformar, se eu continuo uma pessoa intolerante, impaciente, arrogante ou orgulhoso, vaidoso por excesso, extremamente apegado aos bens materiais, são traços de que ainda não conquistou ou não está no caminho da sua transformação moral. Esse seria o ponto essencial que pode comprometer o espírito diante da lei divina.

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segunda-feira, 26 de abril de 2010

MOMENTOS HISTÓRICOS DA PESQUISA CIENTÍFICA ANTE A PERSPECTIVA ESPÍRITA


Por: Jorge Hessen
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A tecnologia está tão presente na vida cotidiana que não imaginamos o mundo sem a sua contribuição. Seja na informática (computadores), na telecomunicação (aparelhos celulares), na genética (pesquisas com células tronco), na biotecnologia (transgênicos), nas conquistas espaciais. A Ciência, propriamente dita, é uma conquista recente; não ultrapassa a três séculos, embora seus primeiros ensaios tenham começado na Grécia dos áureos séculos VI, V, IV a.C. Temo-la representada por Arquimedes, em cujas pesquisas deram base para a mecânica, por Pitágoras de Samos, por Tales de Mileto, por Euclides de Alexandria, no desenvolvimento da matemática e da estruturação numérica.

Encontramos na Escola Jônica pesquisadores como Leucipo, Demócrito e Empédocles que explicaram os fenômenos naturais calcados na redução da matéria aos elementos físico-atômicos, expressando o mais avançado materialismo(1). Destacamos o filósofo Sócrates que superou em inteligência o seu professor Anaxágora , legando para a humanidade discípulos da envergadura intelectual de Antístenes, Xenofonte e Platão. No contexto, Aristóteles forçou explicar os fenômenos astronômicos sob o viés do geocentrismo cosmológico de Eudoxo (ex-aluno de Platão), em contraponto a Aristarco que caminhou pela instigante tese do heliocentrismo.

Um milênio após essas apoteóticas realizações gregas, ocorreu, na Europa, a desagregação do Império romano, no século V, e a liderança cristã surgiu como elo de agregação dos “bárbaros invasores” e se transformou em Igreja soberana absoluta dos destinos “espirituais” no Ocidente. Nas suas hostes se destacaram pensadores quais Clemente, Orígenes, Tertuliano, Agostinho, ambos retomaram a filosofia platônica e contribuíram para a sustentação de uma ética rígida sob os auspícios da mística transcendente.

No século IX, o imperador Carlos Magno incrementou as bases culturais fundando escolas e templos, e, a partir do século XI, são disseminadas, na Europa, universidades que se tornaram núcleos de reflexões filosóficas. No século XIII, Tomás de Aquino se destacou, propondo a síntese do cristianismo vigente com a visão aristotélica do mundo. Em suas duas Summae(2), sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de então. No século XIV, a Igreja romana, sob os guantes tomasistas, entronizou uma teologia (fundada na revelação) e uma filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundiram numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo ao Criador. A tese de Aquino afirmava que não podia haver contradição entre fé e razão e estabeleceu o pensamento filosófico-teológico manifesto na truculenta filosofia do “Roma locuta causa finita”.
Durante os séculos XV e XVI, intensificou-se, na Europa, a produção artística e científica. Esse período ficou conhecido como Renascimento ou Renascença. Enquanto nos séculos anteriores a vida do homem devia estar centrada em Deus (teocentrismo), a partir dos séculos XV e XVI, o homem passa a ser o principal personagem (antropocentrismo). Os pensadores criticaram e questionaram a autoridade dessa autoritária Igreja romana. Nessa conjuntura a apropriação do conhecimento partia da realidade observada pela experimentação, pela constatação, e, por fim, pela teoria, decorrendo uma ligação entre ciência e técnica. No século XVII, a primeira grande teoria que se tem notícia na moderna ciência versou sobre a gravitação universal elaborada por Newton, desmembrada das leis dos movimentos planetários de Kepler e na Lei de Galileu sobre a queda dos corpos.
No século XX, Albert Einstein propôs a teoria da relatividade e outros pressupostos das teses newtonianas sobre a gravitação universal, chegando a conclusões inusitadas na abordagem sobre as realidades do micro ou do macrocosmo, sobretudo no que reporta a tempo e espaço na dimensão material. Até então, a física tradicional era considerada a chave das respostas da vida no mundo palpável, estribada no determinismo mecanicista. Todavia, na década de 1920, as pesquisas de Brooglie, Bohr, Plank, no universo da física quântica, redirecionaram o pensamento científico na formulação heisenberguiana do “princípio da indeterminação ou da incerteza” e com ele irrompeu-se um “irracionalismo” na ciência redimensionando a distância do homem das realidades naturais da vida.
O pesquisador não podia mais afirmar que nada existia na vida que a ciência não explicasse e que todas as coisas, fenômenos e ocorrências poderiam ser esclarecidos através de causas materiais. Em meio a essas trajetórias históricas, surge, no cenário terrestre, no século XIX, a personalidade luminosa de Allan Kardec, que, inspirado pelos Benfeitores do Além, sentenciou: “Fé verdadeira é a que enfrenta frente a frente a razão em qualquer época da humanidade”, esclarecendo os enigmas que desafiavam as inteligências daqueles mesmos que confiavam nos determinismos tecnicista do nec plus ultra acadêmico.
Quem somos? Por que nascemos? Donde viemos e para onde vamos após a desencarnação? Eram questões que o racionalismo acadêmico não respondia na época. O Espiritismo surgiu num momento de descobertas científicas e desequilíbrios morais, trouxe luz à própria razão que estava nublada momentaneamente pelos excessos dos seus arautos. Os primórdios da investigação científica tiveram início com a revolta contra a intolerância e o dogmatismo religioso, mas a arrogância do racionalismo fê-la camisa de força do conhecimento, arremessando-a nos mesmos descaminhos trilhados pelo agressivo e alienante dogma da Igreja.
O mestre de Lyon afirmou em outras palavras que “o Espiritismo independe de qualquer crença científica ou religiosa e não propõe fora do Espiritismo não há salvação; tanto quanto não pretende explicar toda verdade, razão pela qual não propôs - fora da verdade não há salvação”(3). Os preceitos kardecianos consubstanciam-se no manancial mais expressivo das verdades eternas. A missão da Doutrina Espírita perpassa pelo processo de reerguimento do edifício desmoronado da crença cristã.
Distante dos conflitos ideológicos, resultantes de batalhas estéreis no campo intelectual com o objetivo de endeusar o racionalismo para justificar “certezas” das chamadas ciências “exatas”, a lição espírita, como ciência da alma, representa o asilo dos aflitos que ouvem aquela misericordiosa exortação do Mestre: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”. Porém, para que sejamos consolados, urge estarmos dispostos acompanhar o Cristo tomando-Lhe a cruz e seguindo Seus passos.


Fonte:
(1) O materialismo teve seu berço na escola dos Charvacas, na Índia.
(2) São elas a Summa Theologiae e a Summa Contra Gentiles
(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, cap 15 item 9

sexta-feira, 16 de abril de 2010

TRAILER OFICIAL de " NOSSO LAR "



Em setembro será lançado o filme "Nosso lar", adaptação do livro de mesmo nome psicografado por Chicio Xavier em 1944. Maior clássico da literatura espírita nacional, o romance - que acabou virando série - é contado sob o ponto de vista do espírito André Luiz, que, como um repórter, transmite suas impressões sobre o mundo espiritual pós-vida para Xavier
Dirigido por Wagner de Assis , "Nosso lar" é rico em efeitos especiais. "O filme todo se passa em uma cidade espiritual chamada Nosso Lar, e o maior desafio foi a construção dessa cidade", explica a produtora do filme Iafa Britz. "Durante meses, nossa diretora de arte e um grupo de arquitetos se debruçaram sobre esse projeto, que é verdadeiramente arquitetônico. Depois, tudo foi recriado pelo pessoal dos efeitos especiais."
Para a fotografia e os efeitos especiais foram convocados profissionais internacionais, incluindo o diretor de fotografia Ueli Steiger (de "10.000 A.C", e "O dia depois de amanhã") e o supervisor de efeitos especiais Lev Kolobov, da empresa canadense Intelligent Creatures ("A caçada", "Babel" e "Watchmen"). No elenco, "Nosso lar" tem Renato Prieto, Othon Bastos, Ana Rosa, Werner Schunemann, Lu Grimaldi, Nicola Siri e Chica Xavier e Paulo Goulart - que também participa do longa de Daniel Filho.

Aperte play e assista


terça-feira, 6 de abril de 2010

Entrevista de Juvenise a Gazeta do Oeste.

Segue na integra a entrevista de Juvenise Tavares concedida aos jornalistas Gilberto de Sousa e Luis Juetê.

GAZETA DO OESTE - Professora, o espiritismo conta com o ícone Chico Xavier, que agora estaria comemorando 100 anos de existência, se ele fosse vivo. O que representa ou representou, para o espiritismo, o médium Chico Xavier?

JUVENISE TAVARES - Francisco Cândido Xavier, para nós mais conhecido como Chico Xavier, podemos dizer que teve uma grande significação no espiritismo no Brasil. Porque a obra de Chico, marcada pela sua psicografia, hoje fica em algo em torno de 420 livros, todos psicografados. Para que o nosso leitor possa entender, a psicografia é um fenômeno mediúnico que permite que o espírito desencarnado se utilize do corpo físico do médium, mais precisamente da mão do médium, e possa trazer sua mensagem escrita. Esse processo se chama psicografia. Então, é a mediunidade, que se chama psicografia, e que Chico, desde os seus cinco anos de idade, quando havia perdido sua mãe e vivia na companhia da sua madrinha, que não tinha muita afinidade com Chico, e ele sofreu nas mãos dessa madrinha, e a sua mãe começou a lhe aparecer. E, ainda criança, via e se comunicava com sua mãe, que lhe transferia sua mensagem de consolo, que ele suportasse aquelas dificuldades, e que ele teria ainda muitas outras coisas para enfrentar. Aos 17 anos de idade, não que durante os 5 aos 17 não tenha acontecido outros fenômenos, mas precisamente com essa idade é que Chico começa, vamos dizer assim, sua atividade mediúnica no Centro Espírita Luiz Gonzaga, na cidade de Pedro Leopoldo, local do seu nascimento, e encontra ali, na década de 1920, o marco da obra de psicografia de Chico Xavier, com a publicação do livro "Parnaso de Além-túmulo", onde autores brasileiros e portugueses trazem uma coleção de obras literárias, de poemas, de poesias, coisas assim maravilhosas, autores como Castro Alves, Auta de Souza, Casimiro Cunha, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos, Antero de Quental.

GO - Auta de Souza, inclusive, potiguar, não é?

JT - Poetisa potiguar, com sua obra também reconhecida pela literatura brasileira, e o livro vem talvez para inaugurar, abrir as portas do além, usando uma linguagem mais simples, pela mão de Chico Xavier, através da psicografia, um fenômeno maravilhoso que permite que o espírito transcreva a sua mensagem, traga a sua informação, valendo-se da psicografia de Chico para trazerem a sua visão do além. Imagine um escritor como Augusto dos Anjos, quem conhece a sua obra sabe o quanto ele tinha um marco, na sua obra literária, do pessimismo, aquela coisa da morte, do nada. Sua obra era marcada por esse traço característico. Na obra, ele vem falando de uma vida de esplendor, da realidade absolutamente contrária que ele encontra após a morte. Então, é de uma contribuição imensurável. A partir daí, foi uma sequência de obras, e aí nós vamos ter o marco do livro Nosso Lar, e esse livro é um outro marco na trajetória da obra psicográfica de Chico, porque, escrito pelo espírita André Luiz, que é o pseudônimo que o espírito dá quando aparece a Chico, e diz: "Eu fui médico, quando vivia aqui na terra, e tenho que lhe trazer algumas obras, que vamos escrever através da sua psicografia". E Chico pergunta: "Mas quem é você? Qual o seu nome?" E ele responde, perguntando: "Qual é o nome desse garotinho que dorme no quarto ao lado?" Chico diz: "É o meu sobrinho, André Luiz". É quando ele diz: "De agora em diante vai me chamar de André Luiz". Para ver que o espírito não tinha nenhum interesse de ser identificado, que se pudesse fazer referência à pessoa que ele foi, quando esteve aqui na terra, e adota esse nome.

GO - Só um detalhe: depois, houve um estudo para descobrir quem era.

JT - Exato. Aí, hoje, ele diz, na obra, que morou na cidade do Rio de Janeiro, foi médico. Ele faz questão de não se identificar, mas descortina uma série de informações sobre o mundo espiritual. E é muito interessante a obra Nosso Lar, porque o espírito, na sua descrição, nós, enquanto espíritos encarnados, vemo-nos muito na pessoa de André Luiz. Foi um homem que viveu em nosso meio, um profissional médico, com suas paixões, pois vindo de uma família abastada, permitia-lhe que ele tivesse acesso aos prazeres, uma vida farta, o que se pode dizer hoje, estável financeiramente, que sempre buscou a estabilidade dos seus. Mas ele também reconhece que foi um homem com defeitos, que deram ênfase às suas vaidades, ele é muito claro. Inclusive, por causa disso, ele danifica o seu organismo físico, e chega no plano espiritual na condição de suicida. Quando ele começa a obra não se diz espírito, nem materialista, nem ateu, mas também não religioso. Mas quando adentra as portas da morte, percebe que lutou muito contra ela, no seu leito, dá-se a entender que ele morreu em virtude de uma úlcera no estômago, que se aprofundou a ponto de se tornar uma doença incurável. Ele lutou muito contra a morte, durante muito tempo no hospital, apesar de ser médico. Mas quando passa pelas portas da morte, vê outra realidade, um ambiente de sombras, de perturbações e, o que é pior, sendo chamado de suicida. Ele protesta: "Tudo, menos suicida, pois lutei contra a morte. Tudo que eu queria era viver". Mas o que a gente vai entender, ao longo da obra, e isso ele faz questão de descrever que ele havia chegado ao plano espiritual na condição de suicida indireto, porque, devido às suas imprudências para com o seu organismo, ele danificou a sua estrutura física e chegou à morte antes da época que estava prevista. É como se imaginasse você ter um tanto de fluido vital para desenvolver determinado período na sua vida, mas usou em excesso. Ou um filho que vai para uma viagem, e o pai dá sua mesada para um determinado período. Mas ele consome em demasia e logo fica sem dinheiro. Ou fica com o problema ou tem que pedir mais dinheiro ao pai. André Luiz, na obra, faz questão de mostrar o plano espiritual, mas dentro de uma visão científica. Devido ele ter sido médico, todos os casos que ele narra faz questão de lançar um olhar de pesquisa, de ciência, em cima daquilo ali. Quando ele encontra um espírito que estava por demais perturbado, ele procura saber por que, pergunta, pede para averiguar melhor porque aquele espírito se apresentava com essa ou aquela característica, sempre observando a intenção do espírito de lançar um olhar de investigação. O mercado reconhece que não só os espíritas adquirem Nosso Lar. Outros o leem e se encantam, acham que o livro traz muita informação, fala do plano espiritual de uma cidade que existe tudo, uma estrutura de organização, 16 ministérios com suas coordenações, pessoas responsáveis, até os ambientes que recolhem os espíritos recém-desencarnados. E é nesse momento que a gente se identifica muito com a descrição do espírito, porque a gente acha que está fazendo tudo certinho, programado, mas, quando passar pela porta da morte é que a gente vai saber se nós cumprimos o que havíamos planejado, se nos distanciamos muito da nossa meta, ou pode ser que tenhamos excedido aquele que era o nosso compromisso. As informações que André Luiz nos traz não são só de sofrimento, de perturbação que ele encontrou, mas vai falar de casos de espíritas que, devido à sua capacidade de amor, ao seu trabalho extensivo, pessoas que estavam próximas à morte, mas que receberam uma moratória, é esse o termo que eles chamam, de que a espiritualidade permitiu que essa pessoa viva aqui mais um período, para que ela possa cumprir a sua missão, chegar à determinada tarefa. Então, a descrição que André Luiz traz na sua obra, nos outros 15 livros da série, pois só dele foram 16 livros trazidos pela psicografia de Chico, a gente pode ver quanto de informação esse espírito nos trouxe. Então, ele vai falar dos processos de desencarnação, de reencarnação, e tudo isso nos traz uma releitura do nosso comportamento e postura moral. Da nossa relação com o próximo, com o meio ambiente. Quando você pergunta sobre a contribuição de Chico, eu diria que é inestimável, é incalculável a contribuição desse médium ao espiritismo no Brasil, porque o conhecimento espírita nos chega através dos espíritos. Mas para isso é preciso que os espíritos tenham um canal de comunicação.

GO - Pode-se dizer que o espiritismo no Brasil se divide entre antes e depois de Chico Xavier?

JT - Em termos de popularização, não seria errado dizer isso, porque nós vamos encontrar no início da doutrina espírita no Brasil, aí nós vamos ter como um marco assim oficial a criação do primeiro grupo espírita no Estado da Bahia, em 1865, mais precisamente. Imagine que a doutrina espírita tinha oficialmente surgido através da publicação da obra O Livro dos Espíritas, em 1857. Se perguntarmos qual a data do espiritismo, a gente tem a publicação do livro citado como referência, porque é a obra que lança o espiritismo.

GO - Uma espécie de Bíblia da doutrina?

JT - Isso. Inclusive faz muitas citações da Bíblia. Uma coisa que é interessante a gente relembrar, abrindo um parêntese na sua pergunta, que a base religiosa do espiritismo é basicamente cristã. Nós vamos encontrar na obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, trazido por orientação dos espíritos superiores, naturalmente, que escreviam através de diversos médiuns, e Alan Kardec organizada aquelas mensagens e textos, e os espíritas pinçavam trechos do Evangelho O Novo Testamento e analisaram esses trechos à luz do ensinamento espírita, a reencarnação, à luz dessa visão da imortalidade, do mundo que nos envolve, dessa vida eterna que nós temos pela frente, entendendo que a nossa vida presente é apenas uma experiência em meio a milhares que ainda vamos ter e de outras tantas que já tivemos. Uma passagem bem característica do Evangelho, quando Jesus fala: "Amai aos vossos inimigos, fazei o bem a quem vos odeia e orai pelos que vos perseguem", está lá no Velho Testamento. Aí, o que a doutrina espírita acrescenta nisso aí? Porque vamos entender que essa obrigação da prática da lei do amor, além dela ser uma exigência para que o espírito possa se depurar, para que a gente possa sair daquele estágio de inferioridade, de ódio e de vingança, só alcançaremos isso quando conseguirmos aplicar a lei de amor nos nossos pensamentos, nas nossas ações.

GO - Em nível de Brasil, Chico Xavier é a referência. Mas e a cotação dele internacionalmente, porque hoje a referência maior continua sendo Alan Kardec? Mas acredito que Chico Xavier esteja bem próximo.

JT - A gente pode fazer a seguinte diferencia, porque Alan Kardec, como eu falava da obra O Livro dos Espíritas, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e a Gênesi são as cinco obras que caracterizam o que a gente chama de pentatêutico kardequiano, ou seja, as obras básicas do espiritismo. Kardec não escreveu essas obras, ele apenas se debruçou sobre todos os apanhados, todas as mensagens que eram trazidas por médiuns, por pessoas que ele investigou. Ele aqui recebia uma mensagem, o espírito dizia isso. Consultava um outro médium e comparava as respostas, para poder perceber que espíritos diferentes falavam sobre o mesmo tema com a mesma propriedade e característica. Então, Kardec teve essa função de compilar e codificar. Por isso que a gente faz referência a Alan Kardec como a pessoa que enfrentou o mundo. Imagine que Kardec, em meados do século XIX, século marcado pelo desenvolvimento cientista, mas também pela grande extorsão das doutrinas materialistas, que é decorrente do grande avanço científico, íamos perceber o quê: "Não precisamos de religião". Frederich vai afirmar que Deus está morto. E é no meio do celeiro de tantas informações científicas, onde nós estamos descobrindo coisas maravilhosas, que são úteis até os dias de hoje, que surgem na doutrina espírita, e Kardec, também um estudioso da época, com obras reconhecidas na área da pedagogia, e ele enfrenta a sociedade europeia, publicando uma obra que falava de espíritas. Então, o marco, que também é bom lembrar que Alan Kardec era o pseudônimo dele, e não seu nome verdadeiro, exatamente para ficar claro que a obra não era de sua autoria. Vamos ter Kardec como marco inicial, e vamos ter Chico com o papel de popularizar a doutrina, através da psicografia. Porque o número de livros circulando, onde ele não falavam só de ciência, mas de romance com histórias de espíritos que chegavam no plano espiritual falando das colônias espirituais, que é o caso de André Luiz. Isso realmente ajudou a popularizar a doutrina espírita e tornar a coisa mais próxima da realidade daquilo que se lê na obra de Kardec, em Chico os espíritos fizeram como se comprovassem aquilo que Kardec falava no livro da pesquisa científica.

GO - Em relação ao Doutor Fritz, que através de um médium realiza cirurgias. Mito, charlatanismo, enfim...?

JT - Não diria que é mito nem charlatanismo. O Doutor Fritz é um médico alemão, que se identifica como o espírito de tal, que viveu na época da II Guerra Mundial, é que já teve a oportunidade de fazer cirurgias espirituais através de alguns médiuns, entre eles o famoso Arigó, acho que foi na década de 1970, temos também o médium Edson Queiroz, pernambucano, inclusive meu conterrâneo, e que eu, ainda garota, tive a oportunidade de vê-lo na Federação Espírita do Rio Grande do Norte, onde passou uns dois dias e muitas pessoas fizeram suas cirurgias, e casos de pessoas que narraram.

GO - Eficácia comprovada?

JT - Sim. Agora a história do Doutor Fritz é marcada por médiuns que morrem de maneira trágica, há toda uma crença, uma mística ou superstição em torno disso aí. Acreditamos que isso tenha alguma coisa a ver com a trajetória desses médiuns, e que em nada desmerecem o fenômeno em si, que é a possibilidade da cirurgia espiritual. Se você pergunta se para fazer a cirurgia ele teria que cortar o corpo físico, se alguém já viu, eu responderia que não necessariamente. O espiritismo nos diz é que essas cirurgias elas se dão: por que essas pessoas não precisam de anestesia? Por que não sagram? Por que depois não tem todo um procedimento pós-cirúrgico, havendo incisão, corte? Acreditamos que isso acontece para mostrar a evidência do fenômeno, que a questão espiritual está acima das vulnerabilidades da matéria. Mas se a pergunta é se essa cirurgia poderia ter sido feita sem esse ponto, em diria que sim. Porque ela é feita no organismo mero espiritual. O espírito consegue alterar aquele registro na matriz. Porque as nossas doenças físicas primeiro existem na nossa matriz. Todas as nossas doenças primeiro nos atingem espiritualmente, para depois se manifestar no nosso corpo físico. Não é por acaso que a gente encontra nas religiões do Oriente "mente sã, corpo são". Isso guarda uma relação verdadeira. Algumas de nossas doenças físicas, quando nós reencarnamos, tomamos de novo um corpo, já viemos com elas no registro espiritual. Elas podem ou não se manifestar durante a nossa vida. Vai depender da nossa trajetória.

GO - E a questão dos carmas? O espiritismo trata muito disso. Quando o espírito desencarna continua carregando esse carma ou ele se desenvolve apenas na própria vida terrena?

JT - A palavra carma é originada do induísmo. A doutrina espírita não usa muito esse termo, muito embora ele não guarde uma ideia tão destoante do que nós falaríamos, que seriam os nossos conteúdos de comprometimento com a lei divina, que geram uma carga de sofrimentos. Se você pergunta se essa pessoa só pode se libertar desse carma, desse erro que cometeu, vamos entender que carma seria o momento em que nós, ao longo das nossas sucessivas reencarnações, infringimos a lei divina, a lei de amor, machucamos, ferimos ou magoamos alguém, destruímos a confiança, traímos a lealdade. Nós nos comprometemos com a lei divina. Existem alguns crimes que estão previstos no Código Penal, e tem os que não estão, pois passam despercebidos. As nossas ações que se comprometem, que dizem respeito à falta da lei de amor, estão previstas no código penal da vida futura. Aí eu abro um parêntese para lembrar na obra O Céu e o Inferno, de Alan Kardec, nós vamos encontrar um capítulo só falando sobre o código penal da vida futura. E nós vamos encontrar de tudo, ali. Exemplo: a gente imagina que quando a gente tira a vida de alguém, aí é um crime que já está previsto até mesmo na lei humana. Mas existem alguns crimes que passam despercebidos pela lei humana.

GO - Quais, por exemplo?

JT - Vamos supor: os nossos erros, pois crime é uma palavra forte, que dizem respeito às nossas falhas morais, como a prática da impaciência, da intolerância, do preconceito. Aí você diz: "Não, gente. Sobre o preconceito, alguns já estão previstos". Mas já outros tantos que estão nas entrelinhas do nosso comportamento, vamos dizer, imbanal. Às vezes a gente está em casa, tem uma empregada, todos nós temos alguém que nos presta serviço, e costumamos tratar os nossos subalternos, as pessoas que estão sob nossa autoridade, com arrogância, com ar da superioridade que nós atribuímos sermos detentores. Como vamos encontrar na lei divina, onde todos nós somos iguais, irmãos. "Mas ali é meu empregado". É seu empregado, mas, sobretudo, é seu irmão. Você vai exercer uma autoridade que não vença os limites da humilhação, do desrespeito, do preconceito, da falta de amor. Não quer dizer que um pai não possa punir um filho, um professor não possa chamar a atenção do seu aluno. São falhas que vamos gerando ao longo da nossa existência, vamos levar esse débito para com a lei divina, que aí a gente chama de carma. São os carmas que cometemos, são os carmas que contraímos. A doutrina espírita vai nos explicar que essa vida presente já pode ser um mecanismo onde nós vimos nos libertando desses erros, ou outras vidas futuras que venhamos a ter. Seja na condição de homem, seja na de mulher, que aí já é outro tema. O que eu posso dizer aos homens é que respeitem muito as mulheres, porque nós podemos voltar.

GO - Como a gente está no clima, o que é a Páscoa, a ressurreição, para a doutrina espírita?

JT - Nós entendemos que esses festejos da Semana Santa, a doutrina espírita, como nós já falamos, é uma religião, ou uma filosofia e uma ciência de consequências religiosas. Atende o conceito de religião a partir do momento em que ela busca aproximar o homem de Deus, na perspectiva do seu redimensionamento moral, do homem reconstruir-se moralmente, ter uma outra percepção da vida de si mesmo e da sua relação com o próximo. Mas termina não tendo característica de religião, no momento em que não tem cultos, procedimentos, estrutura hierárquica sacerdotal, rituais, dogmas. O centro espírita é um ambiente extremamente simples, onde qualquer pessoa, desde que estude, tenha coerência, domínio da explicação clara e objetiva, pode fazer um comentário espírita, desde que ele seja embasado no conhecimento do assunto. Por não termos essa ritualística, característica das religiões tradicionais, milenares, como é o caso do cristianismo, como também as evangélicas e outras crenças, nós não temos nenhum ritual ou fazemos nenhuma referência à Semana Santa. Respeitamos toda a tradição da Igreja Católica.

GO - Vocês comem carne durante a Semana Santa?

JT - Olha só, a gente acaba absorvendo o costume, até porque muitos de nós tivemos origem católica. Se você perguntar se eu vou comer, respondo que não, já fiz minha reserva de peixe e de crustáceos para o fim de semana, mas por uma questão cultural. Mas se você quer saber se isso interfere no organismo espiritual, se pode comprometer espiritualmente, digo que, na base da doutrina espírita, não há nenhuma fundamental científica que nos prove que o fato de você comer carne ou peixe lhe comprometa espiritualmente. O único comprometimento espiritual nosso é quando nós ferimos a lei divina, faltamos com a lei de amor, e vencemos o limite do respeito ao nosso próximo. Não adianta você seguir todo um ritual, não comer carne, jejuar, isso e aquilo e não consegue respeitar sua mulher. Não consegue ser fiel ao seu marido. Trata os filhos com ignorância. Não sabe se dirigir a um empregado que tem em casa. Não tem sequer o cuidado de não desperdiçar a comida que sobra da sua mesa para que possa servir a alguém. São questões que estão muito intrínsecas no nosso comportamento que podem macular o espírito. Não é um procedimento exterior que pode nos fazer melhor ou pior, mas sim o esforço que fazemos para praticar a lei de amor. Esse é o grande princípio da doutrina espírita, por isso falamos tanto em caridade. Não tem como falarmos tanto em religião, vivermos dentro das igrejas ou templos, ou mesmo do centro espírita, fazer palestras, se eu não conseguir me reformar intimamente, ou se as pessoas que viverem comigo não perceberem em mim nenhum traço de que a doutrina espírita realmente está conseguindo me transformar, se eu continuo uma pessoa intolerante, impaciente, arrogante ou orgulhoso, vaidoso por excesso, extremamente apegado aos bens materiais, são traços de que ainda não conquistou ou não está no caminho da sua transformação moral. Esse seria o ponto essencial que pode comprometer o espírito diante da lei divina.

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